quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

DOIS








Eu caminhei pela rua no sentido por onde ele pessava. Não havia ninguém lá, eu desci a rua toda, entrei em uma esquina que dava para uma avenida. Ninguém. Eu suspendi o meu corpo na altura dos prédios para ter uma visão mais ampla. Nada. Apenas carros, casais, crianças, homens e mulheres caminhando despreocupados pelas ruas.
Eu aterrisei no telhado de um prédio. A vista dos carros pequenininhos e as luzes da cidade acesas era linda. Eu senti uma coisa fria a minha volta. Era uma espécie de presença muda. Meu corpo se enrrigeceu e eu não sentia tanto medo assim, haviam alguns meses. Ele estava sentado, sobre o mesmo telhado à poucos metros de mim. Os olhos quase brancos me fitavam com curiosidade. Um meio-sorriso torto iluminava ainda mais seu rosto O calebo negro comprido caía uma mexa sobre aquele rosto magnífico. Eu estava paralisada e incrédula com aquela figura que me parecia muito mais mística do que real.
- Oi Gabrielle... tudo bem?
-Er... como sabe meu nome?
- Ah, aquele seu amigo Victor fala muito em você. Eu estava te procurando!
- Ah... você mora na mansão é?
- Não querida, eu não moro na mansão!
- Mas você é um mutante?
- É, por enquanto você pode dizer que eu sou um mutante... - O sorriso torto agora deu lugar para um outro sorriso, perfeito, largo e amigável. Eu me sentia atraída por cada gesto dele.
- E como você se chama?
- Gabriel! - Seus olhos brilharam, a boca vermelho sangue pronunciou as palavras num sussurro, a voz parecia um cantar de anjos. A beleza sempre teve um efeito muito maior em mim do que nas outras pessoas. Eu tinha vontade de olhar para ele para sempre.
- Se você não mora na mansão, de onde você conhece o ...
- Victor? ah, eu o conheci outro dia. Quer que eu abra minha mente para você saber como?
- Eh... acho que sim... Não, espera, prefiro que você me conte...
- Ah... ainda tem problemas para encarar o rosto dele?
- Você lê pensamentos?
- Sim, leio pensamentos... Mas eu só posso ler pensamentos quando encostio nas pessoas. Não sou tão previlegiado quanto você...
- Ah, que pena.... O Estevam não era tão competente com os primeiros né?
- Eu não fuii criado pelo Estevam... Mas ainda não está na hora de você saber sobre isso. Mas enfim... você pode perguntar como seu amigo me conheceu para ele mesmo. Quando se encontrarem!
- Ele não é mais meu amigo...
- É sim! um sentimento dessa intensidade não morre! Eu preciso ir agora. Mas nos veremos denovo, querida!
- O sorriso desapareceu e seu rosto virou uma máscara de porcelana dura. Ele pulou do prédio, se agarrou em um cano e desceu de rapel sem cordas com uma destreza inacreditável, para desaparecer nas ruas mais escuras. Eu olhei no relógio do meu celular. eram quase quatro horas da manhã. Eu não havia reparado em como o tempo passou depressa. Eu precisava voltar.
Eu também pulei do prédio, mas para flutuar até o asfalto e caminhar os poucos quarteirões até minha casa. Eu caminhava pela rua pensativa. Estava pensando na cara da Sofia quando desse pela minha falta. A essa hora ela já devia estar dormindo, ou será que a festa havia se arrastado tanto? Eu acabei me destraindo e fui parar muito longe de casa. Estava cansada, mas as luzes e as sirenes me deixaram alerta.
Um aglomerado de pessoas formava um cículo, enquanto os policiais tentavam despersar a multidão. Eu me aproximei um pouco mais e pude ver o que me pareceu um corpo. Eu continuei caminhando, também havia aprendido a expandir os poderes de persuasão, quando eu não queria, as pessoas nem olhavam para mim. Eu cheguei mais perto. Havia muita gente, eu pude ver os cabelos castanhos meio compridos, era uma garota. Eu chegava um pouco mais perto, mas ainda não podia ver o rosto, a pele da mão, que era o que eu conseguia ver, era branca porcelana. Eu podia ver também um pedaço da manga da blusa vermelha que ela usava. Eu reconheci a blusa, tinha uma idêntica, a manga era de renda vermelha, larga na estremidade e justa no braço, Eu me aproximei um pouco mais. Ouvi alguém dizer que eu nao podia passar, mas nao dei atenção. Eu fui abrindo caminho entre as pessoas, eu realmente conhecia aquela blusa, porque era a minha blusa.

***


Ela estava lá, jogada no chão, a blusa vermelha meio rasgada no ombro, aquele rosto inoscente que só a Sofia tinha. Com os olhos fechados ela parecia ter um sono tranquilo. O pânico me dominou de imediato. Eu me assustei com a imagem dela deitada ali, inconciente. Eu me abaixei, para tocar seu rosto. A pele estava fria.Eu senti a cor sumir do meu rosto, meu corpo ficou mole e eu não conseguia mais me sustentar, Eu me agarrei a ela e o controle fujiu de mim. Eu sentia as imagens dos pensamentos me invadirem. Eu sentia a dor fervendo meu sangue e fazendo com que todos os objetos possíveis se movessem frenéticos, fazendo com que os carros batessem, fazendo com que as pessoas fizessem coisas involuntárias. eu abri os olhos e vi que alguém filmava todo o desespero com um celular. Eu não conseguia pensar. Tudo a minha volta girava. O ódio me invadiu. E foi aí que eles apareceram. Eu demorei alguns segundos para reconhecer o rosto do Victor. Ele me pegou nos braços e correu muito rápido. Não me lembrava dessa abilidade dele. Eu vi o Gabriel com a Sofia nos braços. A pele do Victor estava muito fria, mas era confortante tê-lo ali comigo. Eu senti meu corpo relaxar e as coisas começaram a voltar ao normal.
- Nós precisamos correr!(biel)
- Eu sei, eu sei... Ela vai ficar boa?(V) - O silêncio dos dois me desesperou. Será que a Sofia estava mesmo morta? Eu agora torcia para que fosse um pesadelo. Eu não conseguia me mover, mau podia respirar. A Sofia... Eu não era ninguém sem a Sofia. Naquele momento os últimos três anos em que eu passei ao lado dela passaram voando em minha mente. Cada sorriso dela, as gracinhas, as manias, as brigas, a implicancia, até as coisas ruins tinham um significado enorme. Não! Ela não podia estar morta! Ela não podia... Eu lutei contra a dormencia do meu corpo. Eu me desvencilhei do Victor e fui em direção ao Gabriel Ele carregava a Sofia no colo, meus olhos se encontraram com os olhos dele. Agora pareciam um pouco mais escuros, um azul puxado para o cinza, mas ainda sim muito claros e penetrantes. O Victor me segurou denovo. Eu não havia percebido que estava me descontrolando, Nós paramos em uma rua deserta e o Victor foi cair no chao abraçado comigo. Ele encostou o rosto perto da minha orelha e pediu que eu me acalmasse. A voz dele, que a muito eu havia enterrado no meu inconsciente, veio como uma anestesia dolorosa. Eu agora tinha dois buracos gigantescos no peito. Um era o vazio que ele havia deixado, e o outro, era o Vazio da Sofia.
Eu o abracei com força. Senti seu toque gelado no meu rosto. O Gabriel colocou a Sofia no chão com delicadeza. A última coisa de que me lembro daqueça noite, é dos olhos do Gabriel. Estavam muito mais escuros, um azul piscina. Ele me olhava com uma raiva assustadora, eu me senti pesada. Meus olhos estavam pesados. Eu ouvi alguma coisa se quebrando. E então, eu adormeci.

Nenhum comentário:

Postar um comentário